Encerramentos desastrosos não são transição energética

Galp Energia Ref SinesPosições alarmistas e propostas bombásticas em nada contribuem para um debate sério sobre o tema da transição energética, afirma a Fiequimetal, citando o caso do encerramento da refinaria de Sines, uma medida que amanhã vai ser exigida mas que, caso se concretizasse, significaria mais um passo a caminho do desastre económico e social.

Pronunciando-se por um debate a sério da transição energética e contra mais encerramentos desastrosos, a federação considera profundamente negativa a forma alarmista como, a propósito da transição energética, algumas ideias erróneas estão a ser amplamente difundidas, tanto a partir de fontes institucionais, como de grupos que se movimentam numa nuvem de sebastianismo climático, arvorando-se em defensores exclusivos das causas do ambiente e invocando com falsidade os interesses dos trabalhadores e do País.

A Fiequimetal é frontalmente contra as movimentações e exigências de grupos que coloquem à cabeça o encerramento prematuro de qualquer instalação estratégica industrial ou energética, sem haver alternativas concretas e sustentáveis. Tais posições desfavorecem um processo sustentável, harmonioso e justo de transição energética, prejudicando Portugal e os portugueses.

Transição?
Não, apenas destruição!

Em Portugal não existe transição energética, mas apenas a destruição de importantes unidades industriais e do emprego de milhares de trabalhadores.

É necessário esclarecer, sem ambiguidades nem tibiezas, que as questões climáticas não são tratadas nem resolvidas com a política voluntarista e inconsistente levada a cabo pelo actual Governo – independentemente da necessidade de esses problemas terem uma adequada monitorização e um proporcional controlo, através de medidas de adaptação e mitigação.

A designada transição energética e climática tem vindo a ser concretizada através de políticas públicas que são lesivas para os trabalhadores e para os consumidores, e cujos efeitos se somam a uma carga fiscal ambiental crescente e penosa para todos.

O Ministério do Ambiente e Acção Climática tem vindo a descurar diversos aspectos das vertentes ambiental e da conservação, mostrando só ter olhos para os negócios relacionados com a acção climática, levados a cabo em redor da descarbonização acelerada.

O Governo PS assume o papel de facilitador de negócios ditos verdes, mas os governantes tentam confundir os trabalhadores e a generalidade dos portugueses, apresentando-se como os campeões de uma transição energético-climática que não existe.

O País ficou mais fragilizado com os encerramentos da central termoelétrica de Sines e do complexo petroquímico de Matosinhos. O saldo importador de electricidade, nos últimos três meses, situou-se acima dos 22%, ou seja, é importada energia eléctrica gerada em centrais a carvão que emitem, em Espanha ou em França, dióxido de carbono que o Governo diz querer reduzir em Portugal.

Do mesmo modo, em resultado do encerramento da refinaria em Matosinhos, verificou-se já a necessidade de importar 40 mil toneladas de gasóleo.

Portugal a reboque da UE

O Governo português anda a reboque da União Europeia, com graves prejuízos para os trabalhadores, a população e o País.

As emissões de carbono em Portugal representam 0,15% do total mundial. A nível europeu, Portugal é o terceiro país com menos emissões per capita, o que torna injustificada e desprovida de sentido a pressa demonstrada pelo Governo seguidista de António Costa e Matos Fernandes – a não ser que a pressa vise cumprir uma agenda oculta.

A política imprudente da União Europeia – a que Portugal se associa representando o papel de um estudante que se mostra «marrão», mas é «burrinho» – está intimamente ligada à chamada crise energética e já conduziu a que os preços do gás natural e da electricidade atingissem preços incomportáveis, aumentando o custo de vida e pondo em causa micro e pequenas empresas, colocando em risco qualquer vislumbre de recuperação económica no período pós-pandemia.

Esta crise energética veio comprovar que não há, por agora, uma alternativa credível e sustentável ao uso de fontes primárias convencionais.

As importantes fontes renováveis devem ser introduzidas de forma metódica e harmoniosa, e não através de uma ruptura convulsiva, que só serve os negócios das grandes empresas energéticas e a especulação financeira e bolsista. Proclamações mais ou menos sonantes, como as ouvidas na COP26, não passam daí.

No caminho encetado pelo Governo, com sérios prejuízos para a economia das regiões e do País, já foram encerradas precoce e injustificadamente duas importantes unidades industriais e uma terceira está na calha. Com estas acções, determinadas ou apadrinhadas pelo actual Governo, são destruídos milhares de postos de trabalho directos e indirectos, sem que se vislumbrem alternativas credíveis, perenes e sustentáveis.

Para a redução de emissões de GEE (gases com efeito de estufa) nada se ganhou. Mas, para o bolso dos consumidores portugueses e para a economia nacional, estas opções têm um impacto negativo tremendo, tal como acarretam irreversíveis prejuízos para os trabalhadores e suas famílias.

Em sentido contrário, na Alemanha inauguraram, há pouco mais de um ano, novos grupos numa central termoeléctrica, em Dortmund, e vai continuar a ser produzida electricidade a partir de carvão até 2036! Não é caso único.

O rumo deve ser outro!

A Fiequimetal partilha das preocupações em torno das alterações climáticas e admite a necessidade de transição para uma economia com menores níveis de intensidade carbónica e, sobretudo, com muito menos agravos ambientais. Mas não pode ser descurada a necessidade de preservar o emprego, assegurar o desenvolvimento económico assente na produção nacional e salvaguardar a soberania e a segurança energéticas.

Consideramos prioritário reactivar a refinaria do Porto e a central termoeléctrica de Sines. Somos pela manutenção em funcionamento da central do Pego, até haver uma solução alternativa credível que assegure, de facto, a preservação de todos os postos de trabalho. Defendemos que sejam viabilizados os investimentos relacionados com a descarbonização e com a competitividade da refinaria de Sines.

No actual contexto, exigimos firmeza do Governo, para não ceder a qualquer tipo de chantagens de accionistas da GALP que, aliás, já demonstraram estar muito mais focados em chorudos e imediatos dividendos, do que na sustentabilidade da refinaria de Sines.

Ainda é possível travar a fundo e inverter a marcha no caminho para o desastre económico e social!

Fonte: Fiequimetal