O Sindicato dos Médicos da Zona Sul irá apoiar os seus associados no decorrer da acção judicial levada a cabo pelo Ministério Público e espera a condenação política dos responsáveis por decisões desastrosas que terão graves consequências para a saúde da população do Alentejo.
A falta de recursos humanos médicos no Alentejo foi agravada pela decisão, entre outras, de deslocar médicos de família, comprometendo os cuidados aos utentes dos centros de saúde em que trabalham.
Comunicado de Imprensa do Sindicato dos Médicos da Zona Sul:
SMZS denuncia as más políticas de saúde no Alentejo
O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) tem vindo a denunciar a abusiva e ilegal política de mobilização de médicos decidida e executada pelo Presidente da ARS Alentejo e, mais recentemente, as decisões tomadas pelo Conselho de Administração do Hospital de Évora.
O SMZS esclarece desde já que nunca esteve em causa a recusa de qualquer médico à prestação de cuidados a doentes, mas sim que a forma desrespeitosa como foram tratados e as atitudes autoritárias e sem fundamento a que têm sido sujeitos.
A falta de recursos humanos médicos no Alentejo é bem conhecida, fruto do desinvestimento continuado nos serviços de saúde. O surto por SARS-CoV-2 nesta região veio agravar a situação, ao obrigar a deslocar médicos de família para prestar cuidados aos utentes do lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, em Reguengos de Monsaraz, deixando a descoberto os utentes dos centros de saúde em que trabalham.
As condições atualmente existentes não garantem nem a segurança dos utentes do lar nem a dos médicos mobilizados para lhes prestar assistência. São colocados mais de 50 doentes a cargo de apenas um médico de família, que frequentemente não tem qualquer apoio de especialidade hospitalar, ao contrário do preconizado em despacho emitido pela ARS Alentejo. Ao questionarem as condições de prestação de cuidados e aquelas em que foram mobilizados, o Presidente da ARS Alentejo respondeu aos médicos de forma intimidatória, reiterando a ordem de mobilização coerciva, ao arrepio do quadro legal vigente.
A ARS Alentejo terá de assumir publicamente as suas responsabilidades por condicionar o acesso dos utentes aos seus médicos de família, ao ter dado prioridade aos utentes do lar de Reguengos de Monsaraz, uma instituição que não pertence ao Serviço Nacional de Saúde (SNS); terá também de responder pelo tipo de assistência médica prestada a estes doentes, que passou a ser da exclusiva responsabilidade do Presidente da ARS.
Por outro lado, o Conselho de Administração do Hospital de Évora decidiu, unilateralmente, deslocar médicos de várias especialidades para prestar cuidados a doentes COVID, o que tem consequências em termos da qualidade dos cuidados prestados aos doentes com patologias crónicas não COVID. Tal como o Presidente da ARS Alentejo, este Conselho de Administração terá de ser responsabilizado pelas faltas de assistência que estes doentes venham a sofrer, bem como por eventuais erros médicos decorrentes da prática não especializada relativamente a doentes COVID.
O SMZS questiona a legalidade da mobilização dos profissionais médicos feita por administradores politicamente nomeados sem a adequada fundamentação (e sem que a Autoridade de Saúde regional se tenha pronunciado), seja para o Lar de Reguengos de Monsaraz, seja para o “uso” das mais variadas especialidades médicas para a prestação de cuidados a doentes COVID.
O SMZS irá apoiar todos os seus associados no decorrer da ação judicial levada a cabo pelo Ministério Público, a bem do apuramento da verdade, e espera a condenação política dos responsáveis por decisões desastrosas que terão graves consequências para a saúde da população do Alentejo.