CESP quer que DGS imponha regras a super e hipermercados

cesp DGSOs supermercados e hipermercados não tomaram ainda as necessárias medidas de protecção dos trabalhadores, nomeadamente, em relação aos  equipamentos de protecção individual. O CESP pede à Directora Geral da Saúde uma intervenção formal urgente para impor regras de fornecimento, pelas empresas, e obrigatoriedade de uso por todos os trabalhadores, do equipamento adequado ao desempenho das diferentes funções inerentes ao manuseamento, logística, transporte, embalamento, colocação à venda e registo dos produtos nas caixas.

CESP/CGTP-IN em carta dirigida à Directora Geral de Saúde, reclama medidas urgentes de protecção de trabalhadores e consumidores das cadeias de super e hipermercados

As cadeias de supermercados e hipermercados, consideradas essenciais para assegurar o abastecimento da população, não tomaram as devidas medidas de protecção dos trabalhadores, forçados a estar na frente de combate sem a devida formação e protecção individual, correndo riscos pessoais e colocando as suas famílias em perigo, podendo transformar-se, sem o saberem, em transmissores do vírus porque manuseiam e respiram para cima das embalagens e produtos que vão para casa de muitas famílias.

A situação preocupa cada vez mais os trabalhadores. Muitos continuam a trabalhar sem protecção individual, como qualquer cidadão ainda ontem podia observar em linhas de caixa de mais do uma cadeia de supermercados.

O CESP enviou uma carta à Senhora Directora Geral de Saúde, enquanto Autoridade Nacional de Saúde, com conhecimento às Senhoras Ministras da Saúde e do Trabalho, onde reclama medidas urgentes de protecção de trabalhadores e consumidores das cadeias de super e hipermercados, que diz:

A nossa organização sindical representa - filia - dezenas de milhar de trabalhadores de todas as profissões e regiões das cadeias da grande distribuição em Portugal.

Constatamos que as empresas, empanturradas por sucessivos recordes diários de vendas, só muito tarde começaram a oferecer alguma protecção aos trabalhadores que manuseiam os produtos, designadamente, alimentares aos vários níveis da cadeia, incluindo à peça e desembalados: carnes, peixes, bacalhaus, fiambres, queijos, legumes, frutas, etc., e os trabalhadores que manuseiam no acto final de pagamento as embalagens dos produtos que os consumidores levam para casa, em especial alimentares nos balcões e saídas nas caixas registadoras.

Contudo, continuam sem ter todas as necessárias protecções, especialmente para a boca, nariz e mãos, nem dispõem de meios para constantemente se desinfectarem.

Algumas empresas distribuíram máscaras, muitas de papel, impossíveis de usar pelos trabalhadores devido ao esforço exigido no desempenho das funções profissionais e não distribuem nem luvas nem máscaras para os manipuladores nas áreas de logística, transporte e reposição nas lojas.

Poderá constatar, se entrar numa “frente caixa” dum hipermercado ou supermercado, onde podem estar a operar dezenas de trabalhadores, que uns usam máscaras e outras nem máscaras nem luvas e que a protecção de acrílico quase nada impede de transmissão de gotículas. Antes e depois da protecção o cliente aproxima-se do operador, a menos dum metro, em particular quando faz o pagamento, ainda por cima, muitas vezes, numa posição superior que favorece a queda das gotículas da respiração, efeito da gravidade, na área onde estão as mãos e a cara do/a operador/a.

De igual modo, quer nos balcões de atendimento directo quer nas caixas registadoras, a posição dos operadores é situarem-se numa posição mais elevada do que os produtos que manuseiam, obrigatoriamente caindo sobre estes, por efeito da gravidade, as gotículas da respiração.

Importa também referir que não existe qualquer controlo de clientes no interior das lojas o que acaba por provocar aglomerações de clientes em várias secções de loja e corredores, criando uma situação de risco para os trabalhadores, mas também para os clientes.

Apesar das nossas intervenções e alertas, a situação persiste, (tal como persistem os baixíssimos salários e excessivo trabalho) perigosa para os trabalhadores, suas famílias e consumidores, e há cada vez mais circulação de informação de surgimento de casos de Covid-19 entre os operadores, porém as medidas tomadas diferem de empresa para empresa.

Temos conhecimento de lojas onde foram detectados casos positivos, todos os trabalhadores daquele turno foram mandados para casa e a loja desinfectada, por ordem do delegado de saúde.

Entretanto, noutras lojas o procedimento foi completamente diferente. Após detecção de casos positivos, as lojas não são desinfectadas, em alguns casos é feita a limpeza normal, e a generalidade dos trabalhadores da equipa mantêm-se a trabalhar. São apenas enviados para quarentena profiláctica um número muito reduzido.

Estas situações estão a provocar pânico entre os trabalhadores que se sentem desprotegidos e se tal informação passa para a opinião pública irá, com razão, repercutir-se em pânico nos consumidores.

Consideramos que para defender a saúde dos trabalhadores e suas famílias e dos consumidores - todos nós - é necessária uma intervenção formal urgente, prioritariamente, a impor regras sérias de fornecimento pelas empresas e obrigatoriedade de uso por todos os trabalhadores, de equipamento de protecção individual adequado para desempenho das diferentes funções inerentes ao manuseamento, logística, transporte, embalamento, colocação à venda e registo dos produtos nas caixas das cadeias de Supermercados e Hipermercados, e obviamente, também, nos auto-serviços e comércios locais.

De igual modo, devem ser tomadas medidas a obrigar a constante desinfecção de carros e cestos de compras, depois de cada uso pelos clientes, para além de deverem ser impostas regras nas entradas e saídas de trabalhadores, frequência de áreas sociais e balneários, sempre com a preocupação de defesa da saúde de todos.

Deixar ao livre arbítrio das empresas e dos seus responsáveis locais - gerentes e directores - o fornecimento de equipamentos de protecção adequados e ao critério dos trabalhadores o seu uso, (ainda por cima equipamentos desqualificados e desadequados) já está a dar e vai necessariamente acabar em tragédia para a saúde e vida de muita gente.

O CESP termina a sua carta, datada de 24 de Abril, manifestando ainda “disponibilidade para cooperar com a DGS e os seus serviços, em quaisquer iniciativas que pretenda desenvolver na defesa da saúde dos trabalhadores e consumidores”.

FONTE: CESP