Foram mais de 90% as escolas em que, hoje, não houve aulas, por força da conjugação da greve de trabalhadores não docentes e docentes das escolas. Isso significa que cerca de milhão e meio de alunos não tiveram aulas num dia em que o protesto dos trabalhadores da Educação teve uma fortíssima expressão e contribuiu para a elevada percentagem de trabalhadores da Administração Pública em greve, que superou os 80%.
Na Educação, mas, igualmente, na Saúde, Justiça ou Cultura, setores para os quais as políticas do governo têm sido particularmente inóspitas, a adesão dos trabalhadores à greve foi muito elevada e deve ter uma leitura política que deveria, em democracia, implicar um novo comportamento do governo em relação a estes setores.
Da parte dos professores, a participação nesta greve decorre, obviamente, da identificação com os seus objetivos gerais – defesa dos serviços públicos e de investimento nos mesmos, exigência de atualização salarial e de respeito pelas carreiras, combate efetivo à precariedade ou, ainda, exigência de processos negociais sérios –, mas, também, de objetivos específicos, como, por exemplo, a negociação do modo e prazo de recuperar os 9 anos, 4 meses e 2 dias que estiveram congelados, a tomada de medidas que promovam o rejuvenescimento do corpo docente das escolas ou a eliminação de todos os abusos e ilegalidades que continuam a afetar os horários de trabalho dos docentes.
A participação dos professores nesta greve destina-se, ainda, a exigir do governo o arranque da negociação a que está obrigado, na sequência do disposto no artigo 17.º da Lei do Orçamento do Estado de 2019. Ao ignorar os apelos das organizações sindicais para que se iniciem as negociações e ao impor o bloqueio negocial, o governo está a assumir uma postura de completa irresponsabilidade, pois, atrasando o processo, arrasta, com ele, a luta que, eventualmente, venha a ser desenvolvida pelos professores. É perigosa a estratégia do governo, pois empurra o conflito para o período mais crítico do ano letivo.
Hoje, participando na Greve Geral da Administração Pública e contribuindo para que 15 de fevereiro fique marcado como mais um dia sem aulas, como no futuro próximo, em ações e lutas específicas, os professores demonstram que não baixam os braços, não desistem de recuperar o tempo que serviço que é seu, porque o cumpriram, e, já agora, não se esquecem que há outras medidas urgentes, nomeadamente ao nível da aposentação, da vinculação de docentes ou do fim do “sobretrabalho” que lhes é imposto.