5,9% dos trabalhadores portugueses sofre de doenças reumáticas por causa do seu trabalho
O primeiro estudo epidemiológico sobre a prevalência de lesões músculo-esqueléticas relacionadas com trabalho (LMERT), destaca que 5,9% dos trabalhadores (24.269 casos) têm lesões clinicamente relevantes, segundo o seu médico de trabalho. Estes resultados foram apresentados hoje nas XVII Jornadas Internacionais do Instituto Português de Reumatologia (IPR), pelo seu autor principal e médico reumatologista do IPR, Dr. Luís Cunha Miranda, e pelo Prof. Jaime Branco, Coordenador do Programa Nacional contra as Doenças Reumáticas.
O estudo recolheu dados através de um questionário enviado ao médico do trabalho de 515 empresas, com total de 410.496 trabalhadores, o que representa cerca de 11% da população activa em Portugal. Existe evidência de que o trabalho penoso pode causar lesões músculo-esqueléticas relacionadas com o trabalho e consequentemente resultar em absentismo laboral e incapacidade para o trabalho, bem como um decréscimo da produtividade.
A lesão mais prevalente foi a lombalgia[i] (2,27% , 38,4% das LMERT), ), seguida de outras raquialgias[ii]: cervicalgia[iii] (1,13%,19,2% das LMERT).) e dorsalgias[iv] (0,82%, 13,9% das LMERT). As demais lesões identificadas reportam-se ao membro superior, com mais casos de tendinite do ombro (0,6%). No total as raquialgiasou patologia da coluna vertebral são responsáveis neste estudo por 74,9% das LMERT relevantes.
Na análise realizada à distribuição da prevalência por sectores de actividade conclui-se que, nos ramos de Construção Civil, Indústria Metalo-Mecânica e “Outra Indústria”, prevalecem as lombalgias (2,85%, 2,92% e 3,66%, respectivamente), enquanto que, na Indústria Automóvel, de Montagem de Componentes Eléctricos e Electrónicos e, “Outra Indústria”, são mais prevalentes as tendinites do ombro e do punho (2,43%, 2,16% e 1,5%, respectivamente), devido à especificidade da natureza das condições de realização do trabalho.
Analisando a distribuição da prevalência de lesões por sectores de actividade, verificamos que nos ramos de Construção Civil, Metalo-Mecânica e “Outra Indústria”, prevalecem as lombalgias (2,85%, 2, 92% 3 3,66%, respectivamente), enquanto que na Indústria Automóvel, de Montagem de Componentes Eléctricos e Electrónicos e no sector Outra Indústria, são mais prevalentes as lesões nos Membros superiores (2, 43%, 2,16% e 1,5%, respectivamente), designadamente, a tendinite do ombro e do punho.
A prevalência das lesões aumenta com a idade e varia entre sectores económicos de actividade e profissões. Neste estudo, evidenciou-se que os trabalhadores com idades próximas dos 40 anos ou inferiores, sentem mais problemas., sobretudo ao nível do segmento coluna cervical e ombros, do que os operadores mais idosos. Com a idade, os trabalhadores desenvolvem estratégias operatórias que permitem realizar o seu trabalho com menor custo, protegendo-se ergonomicamente do risco de exposição.
“A identificação dos trabalhadores em risco e o reconhecimento precoce de sintomas afiguram-se como estratégias essenciais para a prevenção de lesões músculo-esqueléticas, bem como a implementação de um sistema de monitorização e vigilância, com suporte em avaliações clínicas, para obter um cenário mais actual da realidade nacional”, defende o principal autor do estudo e médico reumatologista, Dr. Luís Cunha Miranda.
“Se o nosso trabalho respresenta 11% da população trabalhadora em Portugal e partindo do pressuposto que é representativo do tecido empresarial português e que encontrámos 5.9% de prevalência destas patologias teríamos 220 467 trabalhadores com patologia relevante para o médico do trabalho. Contudo nos dados da segurança social de 2005 tivemos 1274 doenças profissionais sem inacpacidade e 201 com incapacidade num total de 1475 LMERT certificadas e não as mais de 200 000 que deveríamos ter. Seria importante reflectir acerca do sistema de sinalização e monitorização destas doenças profissionais.”
Em Portugal, escasseiam dados sobre a prevalência das LMERT, devido à falta de referenciação e, a utilização de um sistema único de registo das doenças músculo-esqueléticas profissionais, conduz a uma subestimação da prevalência na população activa e na população em geral.
As LMERT incluem uma vasta gama de condições inflamatórias e degenerativas, afectando os músculos, tendões, nervos, articulações e vasos. As regiões corporais mais afectadas são a zona lombar, a coluna cervical, os ombros, os cotovelos e as mãos e, em menor escala os membros inferiores.
Características e Metodologia do Estudo
O Estudo PROUD (Prevalence of Rheumatic Occupational Diseases) teve como objectivo conhecer a prevalência de lesões músculo-esqueléticas relacionadas com o trabalho a nível nacional, na população activa em geral e por sector de actividade económico para compreender qual o melhor método de vigilância destas lesões. Foi enviado um questionário para 822 empresas (com mais de 250 trabalhadores por empresa), que contemplou a recolha de informação relativa às lesões músculo-esqueléticas diagnosticadas por um especialista, às características demográficas dos trabalhadores da empresa, ao tipo de actividade da mesma e informação complementar respeitante às medidas de diagnóstico e de prevenção. 515 empresas responderam entre Junho a Novembro de 2006, perfazendo um total de 410.496 trabalhadores portugueses. Os indicadores utilizados neste estudo dizem respeito, por um lado, à frequência de lesões músculo-esqueléticas relacionadas com o trabalho em referência ao número total das empresas e ao número total de trabalhadores.
Os autores deste estudo são: Dr. Luís Cunha Miranda, reumatologista e médico do trabalho, do Instituto Português de Reumatologista; Prof. Filomena Carnide, professora da Faculdade de Motricidade Humana e Dra. Fátima Lopes, médica do trabalho em representação da Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho.
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[i] Lombalgia: aparecimento de dor na região lombar da coluna vertebral.
[ii] Raquialgias: dores na coluna vertebral. São as queixas reumáticas mais frequentes e um dos principais motivos de incapacidade antes dos 45 anos de idade.
[iii] Cervicalgia: caracterizada por dor e rigidez na região cervical.
[iv] Dorsalgia: é a dor sentida nas região dorsal da coluna