Caderno Reivindicativo da União dos Sindicatos de Angra do Heroísmo

ACORES Foto ArquivoO Caderno Reivindicativo da União dos Sindicatos de Angra do Heroísmo enquadra as reivindicações centrais dos trabalhadores das três ilhas que a União dos Sindicatos de Angra do Heroísmo abrange - Terceira, São Jorge e Graciosa.

Apresentação do Caderno Reivindicativo da União dos Sindicatos de Angra do Heroísmo:

VALORIZAR OS TRABALHADORES AÇORIANOS

O Caderno Reivindicativo da União dos Sindicatos de Angra do Heroísmo (CR/USAH) para o ano de 2020, pretende, a partir da caracterização da realidade laboral açoriana, espelhar e dar corpo à vontade dos trabalhadores açorianos, nomeadamente os das Ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa, avançando reivindicações e propostas que constituem um contributo válido e necessário para a superação de um vasto leque de problemas que os afectam.

A presentação do CR/USAH - Valorizar os Trabalhadores Açorianos - está inserida na quinzena de Luta da FESAHT- Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal, que decorre de 27 de julho a 07 de agosto, pela reposição de direitos e aumentos salariais. O setor da hotelaria e restauração vive uma crise social profunda, no País e nos Açores.

O presente documento decorre da necessidade de relançar e actualizar as reivindicações das trabalhadoras e dos trabalhadores açorianos.

O CR/USAH é constituído por mais de duas dezenas de temáticas e cerca de duas centenas de propostas, medidas e reivindicações, das quais destacamos seis eixos de acção:

1. Salários; 2. Qualidade do Emprego/Precariedade; 3. Contratação Colectiva; 4. Formação Profissional; 5. Igualdade de Género, 6. Saúde e Segurança no Trabalho.

Sendo um documento enquadrador das reivindicações centrais dos trabalhadores das três ilhas que esta União de Sindicatos abrange, o CR/USAH é, igualmente, um estímulo e um catalisador da acção reivindicativa nos sectores e nos locais de trabalho, condição fundamental para a defesa e melhoria de direitos, garantias e conquistas sociais dos trabalhadores.

Os últimos meses demonstraram da pior forma, até onde os sectores patronais estão dispostos a ir no atropelo dos direitos dos trabalhadores. Numa ofensiva que a não ser travada lançará as relações laborais numa autêntica “lei da selva”.

O pior dos exemplos foram os despedimentos selvagens de trabalhadores, de que são particular exemplo os que têm vínculos precários, nomeadamente as empresas de trabalho temporário e trabalhadores em período experimental. Mas registaram-se outros atropelos, como a colocação de trabalhadores em férias forçadas; a alteração unilateral de horários; o não pagamento de salários; o não pagamento das horas de trabalho extraordinário; o corte de prémios e subsídios; a retirada de pausas de trabalho; e a imposição da polivalência.

Os dados recolhidos pela União dos Sindicatos de Angra do Heroísmo e a conjuntura social que vivemos fazem-nos temer um aumento do desemprego nos Açores. O problema será geral, mas no nosso entender atingirá, em primeiro lugar, os jovens, mesmo os altamente qualificados, mas também os trabalhadores e as trabalhadoras a partir dos 45 anos de idade, que são discriminados/as no acesso ao emprego. Receamos que após o período de layoff muitos trabalhadores sejam despedidos e não voltem ao seu posto de trabalho, fazendo disparar significativamente o desemprego na Região, o que aumentará ainda mais a pobreza e exclusão social nos Açores.

No plano social, assistimos a situações dramáticas para muitas das famílias açorianas, mas especialmente para as socialmente mais desfavorecidas. Surgem, assim, graves situações de pobreza e de exclusão social, com uma dimensão que era, até agora, desconhecida nos Açores. Espelho da injustiça social que se aprofunda no nosso Arquipélago é o facto de para muitos trabalhadores a remuneração mensal é insuficiente para garantir a sua sobrevivência e dignidade, o que é socioeconomicamente incompreensível e inadmissível.

A sociedade açoriana do futuro, não pode nem deve ser uma sociedade de desemprego crescente, nem de crescente emprego precário.

O trabalho tem de ser valorizado, como um direito universal, cuja criação e partilha devem ser feitas a partir da capacidade material, técnica e científica da sociedade.

Por isso apresentamos as seguintes doze medidas a reivindicar em 2020 e 2021 pela União dos Sindicatos de Angra do Heroísmo

I. Aumento geral dos salários e evolução de todas as grelhas salariais, de modo a assegurar a progressão de salários absorvidos pelo recente aumento (ainda que insuficiente) do Salário Mínimo Nacional como elemento indissociável da valorização das profissões, competências, experiências e qualificações;

II. Aumento do Complemento Regional ao Salário Mínimo Nacional de 5% para 7,5%, como forma de minorar o empobrecimento da crescente percentagem de trabalhadores açorianos abrangidos por esta remuneração e de relançar o consumo interno;

III. Aumento dos apoios sociais da Região, nomeadamente dos complementos de pensão e abono de família;

IV. A consideração da qualidade do emprego criado, como condição no apoio a projectos de investimento privado. O apoio público ao investimento privado exige a responsabilidade social das entidades apoiadas. A concessão de subsídios às empresas tem de ser acompanhada da exigência da criação e manutenção de postos de trabalho com boas condições laborais, redução da precariedade e remunerações justas. A qualidade do trabalho do prestado deve ser justamente remunerado;

V. O efectivo combate ao trabalho precário e ilegal, dando prioridade à protecção dos trabalhadores, nomeadamente, a passagem a efectivos dos trabalhadores que ocupam postos de trabalho de natureza permanente (com contrato a termo ou a recibo verde), no cumprimento do princípio de que a um posto de trabalho permanente tem de corresponder um vínculo de trabalho efectivo;

VI. A efectivação do direito à formação profissional certificada, prevista no Código do Trabalho, o qual não é cumprido por uma parte substancial das empresas e da administração publica regional, e o aumento das qualificações em geral para os trabalhadores açorianos.

VII. O respeito pela articulação da vida profissional com a vida pessoal e familiar dos trabalhadores;

VIII. Um programa de desenvolvimento dirigido à revitalização do tecido produtivo, com um forte investimento no sector primário, tendo como objectivos centrais o reforço das exportações e a substituição das importações por produção regional, de forma a equilibrar a balança comercial e diminuir a dependência externa;

IX. A reorientação dos financiamentos comunitários para um efectivo apoio à produção regional, e não ao seu desmantelamento, e um aproveitamento mais eficaz dos fundos disponíveis;

X. A melhoria das condições de acessibilidade em termos de transportes aéreos e marítimos, através, por exemplo, da redução das respectivas tarifas e dos custos de operação;

XI. A alteração dos programas ocupacionais e de estágios, de forma a garantir a contratação com integração nos quadros dos trabalhadores abrangidos, evitando a sua utilização como mão-de-obra gratuita e sem direitos e preenchendo postos de trabalho de natureza permanente,

XII. A facilitação dos processos para eleição de representantes de Saúde e Segurança no trabalho, tendo em conta a actual conjuntura de saúde publica e para evitar que nos Açores todos os anos se registem acidentes mortais de trabalho. A dotação das entidades regionais que regulam as relações do trabalho, nomeadamente a Inspecção Regional do Trabalho (IRT) e a Comissão Regional para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CRITE), dos meios humanos e materiais adequados para uma intervenção célere e eficaz, fazendo cumprir a legislação laboral.

Angra do Heroísmo, 3 de agosto, de 2020