Realidade desmente razões da Super Bock para despedir 10% dos trabalhadores

Super BockAo contrário do que alega a Super Bock para querer despedir 10% por cento dos trabalhadores, a empresa está com níveis muito próximos de recordes de cargas para os clientes estratégicos (hipers e supermercados) e com incapacidade de dar resposta às solicitações para abastecer a rede de distribuidores, afirma o SINTAB, com base em informações recolhidas junto dos trabalhadores. O sindicato lembra também que a Super Bock invoca a redução de actividade – de 60 por cento em Abril – por causa da covid-19 mas, nesse mês, no pico da pandemia no país, distribuiu 55 milhões de euros pelos accionistas. Em todo o caso, os dados recolhidos pelo sindicato, até ao início desta semana, comparam apenas em menos 4 por cento com os números de Julho do ano passado.

Comunicado do SINTAB aos trabalhadores da Super Bock:

Anúncio de reestruturação da SUPER BOCK – Desconstruindo números.

Camaradas,

Ao longo das últimas semanas, com particular incidência nos últimos dias, a estrutura sindical do SINTAB, na SUPER BOCK, tem promovido contactos, conversas e troca de informação com inúmeros trabalhadores, nossos associados ou não, nas variadas áreas da empresa.

As conversas e trocas de informação, que estes contactos proporcionaram, possibilitam enquadrar melhor a atual situação da SUPER BOCK, projetando-a nos inúmeros fatores socioeconómicos atuais, pelo que:

1. O Exercício de orçamentação para 2020, preparado em setembro de 2019, assumia já a previsão de redução de vendas em alguns mercados, como a China e Angola, e o fim do negócio intercompany (enchimento de moussy para o mercado Carlsberg no médio oriente) que eram, no último terço do ano passado, fatores identificados e precavidos em sede de orçamentação para o exercício de 2020;

2. Se todos estes fatores foram antecipados na orçamentação, o intercompany foi-o de forma reforçada com a antecipação, por acordo com os Trabalhadores, do fim do regime de laboração contínua para a linha 1, por via das poupanças que daí advêm;

3. Esta conjugação de fatores, que representaria uma quebra direta na ordem dos 20%, em volume de vendas, seria compensada pelos resultados de uma aposta mais efetiva nos festivais de verão e pelas previsões de maior favorabilidade do clima de verão, em 2020, ao consumo de cerveja e dos restantes produtos do portfólio SUPER BOCK. Este exercício de previsibilidade adiantava excelentes perspetivas de, no fim do ano, os resultados do exercício de 2019 virem a ser superados;

4. A crise COVID-19 agravou, no entanto, as quebras já esperadas. O volume de vendas do mês de abril representou uma quebra de cerca de 60% face ao período homólogo de 2019. Este foi, apesar disso, o mês em que a Administração da SUPER BOCK, já na posse destes indicadores, entendeu proceder à distribuição de 55 Milhões de euros em dividendos pelos acionistas. Uma decisão que, caso se validasse a caracterização catastrofista do estado de coisas, defendida pela própria Administração, representaria opção por uma gestão danosa consciente;

5. Não obstante o referido no ponto acima, e apesar de todos os meses de 2020 estarem a apresentar quebras de vendas por comparação com o ano anterior, os valores de junho e julho deixam já transparecer uma realidade muito menos penosa do que a dos meses anteriores e claramente mais favorável que a esperada nas previsões anuais. O sólido e promissor amortecimento da queda de 50%, em maio, para 16% em junho e 4% em julho (até ao início desta semana), dão indícios fortes de estarmos a assistir a uma clara e sólida recuperação;

6. A tudo isto pode ainda acrescentar-se o facto de, atualmente, estarmos com níveis muito próximos de recordes de cargas para os clientes estratégicos (hipers e supers) e com incapacidade de resposta às solicitações para abastecer a rede de distribuidores, principalmente na vertente tara retornável.

Esta incapacidade deve-se, sobretudo, aos baixos níveis de produtividade que advêm, sobretudo, da já denunciada falta de mão de obra e inúmeros erros de gestão na área industrial.

Toda esta exposição, validada por resultar da veracidade e genuinidade do contacto com os Trabalhadores, que potenciam a atividade e o negócio e estão por dentro da sua implicação prática, assume caráter de reforço à posição até aqui tomada e tornada pública pelos representantes dos Trabalhadores.

A situação atual não advém diretamente da crise provocada pelo confinamento, mas antes da normal e expectável variabilidade do negócio, que não justifica as medidas agora decididas e comunicadas pela Administração, muito menos quando assenta na validação da imprescindibilidade da entrega de lucros aos acionistas, em simultâneo com a desvalorização da manutenção dos postos de trabalho.